sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Cannibal Holocaust - Ruggero Deodato

"Atue Alan, estou filmando!"

Como principal representante da Canibalitália (apelido dado para os exploitations italianos sobre canibalismo dos anos 70/80), Cannibal Holocaust nasceu para criar polêmica. Violência animal, acusações de assassinato e de tortura e até uma quase prisão marcaram para sempre a imagem de Ruggero Deodato, que nunca conseguiu repetir o êxito desse filme em suas produções posteriores. 

O filme conta a história de um antropólogo chamado Harold Monroe (Robert Kerman), que adentra a Floresta Amazônica para procurar pistas sobre o misterioso desaparecimento de quatro cineastas americanos, que viajaram até a América do Sul para gravar um documentário sensacionalista sobre o canibalismo no século XX. O primeiro ato de Cannibal Holocaust segue o professor Monroe e seus guias na busca pelos rolos de fita que revelam qual o paradeiro dos documentaristas. 
Após o encontro do material, os rolos são exibidos e uma verdade chocante é revelada: os verdadeiros canibais não são os índios.

O roteiro de Gianfranco Clerici se mostra inteligentíssimo ao denunciar a ganância dos ditos "civilizados". No segundo ato, descobrimos que Alan, Faye, Jack e Mark são os verdadeiros vilões da história, cometendo atos bárbaros contra os nativos em nome do sensacionalismo barato e uma bilheteria farta. O mais interessante disso é que para criar um clima realista para o filme, Deodato e Clerici  moldaram um novo formato de cinema ; o Mockumentary, ou pseudodocumentário em português.
Esse formato que está em alta nos últimos tempos apresenta o enredo na estética de um documentário, porém não é. Está em alta ultimamente com A Bruxa de Blair e o patético Atividade Paranormal. Porém, ao contrário dos dois citados, que preferem a sugestão ao grafismo, Cannibal Holocaust é totalmente gore, não poupando o espectador de cenas nojentas e de gosto duvidoso.

Tudo aqui é muito gráfico e mostrado na cara, inclusive cenas reais de violência animal. Reza o fato que o diretor Deodato (rima no ponto) foi condenado a prisão após a divulgação do filme, devido ao extremo realismo dos efeitos de maquiagem. Para deixar tudo ainda mais real, o atores principais foram obrigados a assinar um contrato com a finalidade de não aparecerem em público até o filme sair da mídia; porém, obviamente, tiveram que quebrar a regra e aparecer no julgamento do diretor para provar que eles não foram realmente assassinados durante a gravação.

Cannibal Holocaust é um filmaço que não poupa críticas sociais e gore, mas que infelizmente cometeu alguns excessos e sofre boicotes de determinados tipos de espectadores. É um filme difícil, que encanta a poucos, mas quando encanta...

Ps: O filme tem uma edição em DVD nacional, lançada pela Platina Filmes. A qualidade de imagem e áudio são boas, porém não acompanham nenhum extra de relevância. Recomendo a compra da edição americana da Grindhouse Releasing. Um DVD Duplo numerado com qualidade perfeita de áudio e de imagem e cheio de extras.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Videodrome - David Cronenberg

"A televisão é a realidade, e a realidade é menos do que a televisão."

David Cronenberg é um bem sucedido diretor canadense, famoso por ser o criador do Body Horror (horror Splatter onde o medo se dá por meio de modificações corporais) e por seu cinema cheio de um humor grotesco com teor social. Seu filme mais popular é o nojento A Mosca, que por mais que seja gráfico, é socialmente "inofensivo", mesmo contendo elementos Kafkianos sobre a evolução (devolução?) do humano. Já Videodrome é uma PORRADA na cara do espectador, com gore e críticas sociais a todo momento.

Videodrome mostra Max Renn, um produtor de filmes pornográficos que procura algo diferente para a exibição em sua emissora. Detentor de uma polêmica em torno de seu canal, Max é criticado por alguns membros da sociedade por mostrar pornografia em rede aberta, mesmo com os índices de audiência sendo altos.

Um dia, Max toma conhecimento sobre um canal independente que transmite cenas de sexo violentíssimas e com alto grau de sadismo, que o deixam intrigado e interessado. Ao pesquisar sobre o canal, ele descobre que lá são transmitidos filmes snuff (filmes sem personagens, sem efeitos e sem roteiro, que mostram torturas e mortes reais afim de satisfazer o desejo de um público sádico, vide o vídeo que roda na internet: 3 guys 1 hammer).

Porém, Renn descobre o canal é um transmissor de percepções que causam tumores no cérebro de quem o assistir, e que esses tumores causam alucinações tão graves aponto de ser impossível distinguir a ficção da realidade. O homem por trás do canal é o Prof. Brian O'blivion, um idealista tecnológico que acredita que a televisão e a tecnologia elevam o ser humano a um patamar divino, e que, com a programação certa, a televisão pode mudar o mundo. Ele é dono de uma organização beneficente que oferece algumas horas de televisão todo dia para pessoas que não podem pagar por uma, porém, antes de realizar seu sonho, é assassinado por uma organização que atende de fachada por Spectacular Optical, que na realidade é uma mega-corporação que fornece materiais para a OTAN e está por trás de toda a elite mundial (ela seria a principal arquiteta da Nova Ordem Mundial, assunto que todo professor de Geografia e/ou Sociologia adora falar sobre). A partir do assassinato, a Spectacular Optical passa a comandar o Videodrome, expondo os sinais cancerígenos ao seleto público que conseguir sintonizar o canal. 

O filme descreve de maneira muito gráfica o impacto da mídia na população, e se nos anos 80 a mensagem do filme era contundente, trinta anos depois ela se fortalece ainda mais.
As várias subdivisões da mídia (TV inclusive) reproduzem suas informações de maneira com que seu público entenda a notícia de maneira distorcida.  É como se a televisão fosse a nossa segunda retina: a primeira é a dos nossos olhos, que nos deixa enxergar a realidade. A segunda é a tela da televisão, que nos impede de seguirmos a primeira. Se seguirmos a primeira, estaremos seguindo a nossa razão. Se seguirmos a segunda, estaremos seguindo o Videodrome, ou seja, a síndrome do vídeo que está dominando (se já não dominou) nossa mentalidade atual.

Em determinada cena do filme, o chefe da Spectacular Optical, Barry Convex, diz a Max que o sexo e a violência abrem a mente do ser humano e nos deixam mais receptivos ao sinal do Videodrome.

Agora pense: você não acha que o excesso de sexo e violência nos noticiários da TV não são tentativas de "abrir nossa mente" para as mensagens duvidosas transmitidas? Ou que, largando conteúdos duvidosos em rede nacional, o que na verdade querem nos dizer são apenas conteúdos publicitários? Aos poucos, vamos virando apenas "quadros brancos" como Max Renn virou.

Em meio a todo esse conteúdo social, encontramos um filme com muito gore e movimento. Pessoas estripadas, mutilações, suicídios e até uma vagina aberta em uma barriga marcam presença com o máximo de detalhes possíveis. Uma grande virtude da direção de David Cronenberg é que se for necessário mostrar um mão sendo decepada, a mão é mostrada com todos os detalhes possíveis. Não apenas pela exposição de Efeitos Visuais, mas sim pelo efeito causado no público: o choque, que nas obras oitentistas de Cronenberg era seminal para o total entendimento da obra.

Videodrome é a obra-prima de David Cronenberg, inteligentíssimo, contundente e visionário; merece ser visto por todos.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Ichi, o Assassino - Takashi Miike

"Coloque mais sentimento no espancamento! Se você quer fazer alguém sentir dor, você tem que fazer isso com paixão!"

É complicado escolher apenas uma citação para iniciar uma texto sobre Ichi, o Assassino, de Takashi Miike. Existem dezenas de frases geniais no filme, todas com o senso de humor doentio característico da obra do demente japonês. Aliás, não apenas as frases, mas todo o filme está rondado de humor. Vezes ácido e vezes idiota; vezes sádico e vezes masoquista. Ácido, idiota, sádico e masoquista, essas são as palavras corretas para descrever Ichi, o Assassino, seu protagonista Kakihara e de certa forma, toda a obra de Miike.

Ichi, o Assassino (Koroshiya 1, do original japonês) fala sobre um chefe da Yakuza apelidado de Boss Angel, que foge com uma grande quantia em dinheiro, fazendo com que Kakihara e sua gangue passe a persegui-lo. Os métodos chocantes de tortura de Kakihara chamam a atenção de gangues rivais. Tudo piora quando Kakihara contrata Ichi, um brutal psicopata depressivo.
O enredo básico apesar de ser batido e até meio clichê, é conduzido de maneira insana pelo roteiro de Sakichi Satô e Hideo Yamamoto. As doses cavalares de violência apresentadas na tela chegam a ser hiperbólicas (a exemplo da cena do estupro, seguido de espancamento, seguido de mutilação, seguida de empalamento), e as personagens tão exagerados quanto a violência. As características delas são dignas de seriados do Adult Swim: Kakihara é um torturador masoquista e gay; Ichi é um assassino depressivo e doente mental criado e controlado por hipnose; Jirô e Saburô são dois mercenários gêmeos que se comunicam por telepatia; Jijii controla Ichi e é viciado em comida; Karen também é controlada por Jijii e faz um treinamento com Kakihara (em uma das brilhantes cenas protagonizadas pelos dois que ouvimos a frase que abre esse texto). Sem contar a prostituta que agride verbalmente Ichi por salvá-la de um estupro (sendo assassinada logo depois, em um ato desesperado do pobre assassino). Todos os clichês de uma trama supostamente batida são quebrados aqui, e quando não são quebrados, são mostrados de maneira tão extrema que passam a ser originais.

Mesmo com a originalidade do roteiro, o que realmente chama a atenção para o filme é a genialidade retardada de Takashi Miike, que apresenta aqui um de seus trabalhos mais bizarros. Cortes abruptos, câmeras rápidas sendo alternadas com câmeras lentas, closes e o gore mostrado sem nenhum escrúpulo podem ser comparados com Morrer ou Viver e Sukiyaki Western Django, ambos do mesmo diretor.
A batalha final entre Ichi e , Kakihara é muito bem construída por Miike, de maneira alinear e fantasiosa, com entradas na mente de Kakihara e várias mortes seguidas de ambos os personagens, além da decapitação de um pequeno garoto que se dispôs durante o filme inteiro a ser o único amigo de Ichi, provando que Miike é um diretor sem limites morais ou éticos.

Ichi, o Assassino é um filme recomendado para todos os fãs do bom cinema asiático. Não o dos fantasmas com cabelo grande e molhado, mas sim o cinema contundente e ácido de Chan-wook Park, Shion Sono, Fruit Chan, Nobuo Nakagawa e, sem dúvidas, Takashi Miike. Afinal, ser um ídolo do "rei do mimimi" Quentin Tarantino não é para qualquer um.


sábado, 13 de abril de 2013

Cannibal Ferox - Umberto Lenzi

"O filme que você verá agora é um dos mais violentos já realizados. Há pelo menos duas dúzias de cenas de torturas bárbaras e sádica crueldade, mostradas de forma explícita. Se você fica chocado com a apresentação de material repulsivo, por favor, não veja este filme."
  
Nos anos 70,o cinema italiano estava produzindo à todo vapor. Dario Argento, Joe Damato, Lucio Fulci, Luigi Cozzi, Sergio Martino e mais vários cineastas trabalhavam e praticamente todo ano lançavam obras novas, de todos os gêneros cinematográficos. Da comédia ao romance, do drama à ação, do erótico ao documentário. Tudo foi feito pelos italianos na década de 70, porém o gênero que mais teve destaque foi o terror. 

No começo dos anos 70 (1972 mais precisamente), Umberto Lenzi lançou o ruim The Men From the Deep River, uma aventura baseada nos documentários Mondo da década de 60, que contava a história de um fotógrafo que se perde numa floresta da Tailândia, e é mantido refém por uma tribo nativa. O filme não causou muito alarde, apenas foi fisgado pela censura de alguns países mais ferrenhos. Em 1977, o talentoso Ruggero Deodato lança o bom Jungle Holocaust, que transformou o gênero "Terror Canibal", iniciado por  Lenzi, em uma onda cinematográfica. Até o começo dos anos 80, Sergio Martino faria The Mountatin of the Cannibal God Lenzi tentaria mais uma vez fazer sucesso com o picareta Mangiati Vivi - Eaten Alive. Quando Deodato lança a obra prima Cannibal Holocaust (1979), Lenzi decide extrapolar os limites  do aceitável, lançando o horrível Cannibal Ferox.

Lançado em 1981, Cannibal Ferox começa com uma voz feminina infantil avisando ao espectador o que estará por vir, e logo pula para Nova Iorque, mostrando um usuário de drogas voltando para casa após um longo tempo na reabilitação. Ao invés de ir para casa, o "consumidor" passa na casa de Mike Logan (Giovanni Lombardo Radice, sob o pseudônimo de John Morghen), um traficante de drogas. Mas ao invés de encontrar seu fornecedor, encontra dois mafiosos procurando po Logan, que sumiu com muito dinheiro. Ao dizer que não sabe onde Logan está, o usuário é assassinado.

Num enorme corte geográfico, vamos para a Amazônia, onde três estudantes esperam para ir até o outro lado de um rio. Eles são Gloria Davis (Lorraine de Selle), Rudy Davis (Bryan Redford, pseudônimo de Danilo Mattei) e Pat Johnson (Zora Kerova, ícone do cinema de horror italiano, que trabalhou com Joe Damato e Lucio Fulci). Gloria está preparando sua tese para a conclusão da faculdade, e para isso precisa se envolver com tribos indígenas. Após atravessarem o rio, encontram Logan e seu "amigo" (pff) Joe Costolani (Walter Lloyd, pseudônimo de Walter Lucchini). 

Após o encontro dos personagens principais, Cannibal Ferox se transforma em uma grande aula de como não se fazer um filme. Extremamente repetitivo e apelativo, o filme plagia na cara dura diversas produções extremamente superiores como todas as já citadas anteriormente. É claramente um filme ruim, mas que teria chances de criar algumas cenas antológicas se Lenzi fosse um diretor pelo menos regular.

Cannibal Ferox é um filme tão mal dirigido que até cenas com grande potencial são praticamente jogadas pelo ralo. Um grande exemplo disso, é quando Gloria Pat ser pendurada pelos seios e começa a rezar para que sua amiga morra rápido e não sinta tanta dor. É uma cena que nas mãos de um diretor melhor, teria uma grande carga dramática, mas que nas mãos de Lenzi se torna apenas mais uma.

Resumindo tudo isso, Cannibal Ferox é uma grande bobagem pessimamente criada por Umberto Lenzi. Para não dizerem que eu estou exagerando, o próprio Lenzi disse em uma recente entrevista que não considera Cannibal Ferox arte. Eu particularmente considero Cannibal Ferox arte, mas não de boa qualidade.

O Rei da Morte - Jörg Buttgereit

"Em seis dias, Deus criou o céu e a terra. No sétimo, se suicidou."

Jörg Buttgereit é um cineasta/roteirista/escritor de peças de teatro e crítico de cinema alemão. Nascido em Berlim, Buttgereit desenvolveu um gosto pelo transgressor logo em seus primeiros trabalhos, parodiando elementos da cultura alemã em pequenos curtas. Seu primeiro trabalho de destaque foi o horrível (mas hilário) Hot Love, que conta uma clichê história de vingança. Porém, em 1987, Buttgereit lança o clássico transgressor Nekromantik, que contando com cenas repulsivas de necrofilia e assassinato, abriu para o diretor as "portas do underground". Seu segundo (e melhor) longa, é O Rei da Morte (Der Todesking), de 1989.

O Rei da Morte representa o início da maturidade técnica de Buttgereit. Se Nekromantik apresentava praticamente cenas aleatórias costuradas com repulsão, O Rei da Morte, mesmo sendo um filme dividido em capítulos (sete suicídios em sete dias da semana), consegue fazer conexões entre uma trama e outra, sem se tornar maçante ou confuso. Pelo contrário, é um filme que apesar de lento, cria situações que prendem a atenção à todo momento, transformando em uma atividade prazerosa assistir algo tão mórbido, e que de acordo com alguns, é uma ode ao suicídio.

Algo interessante em O Rei da Morte é a proposital falta de empatia do público para com os personagens. Todos os personagens do filme são vazios, como se fossem apenas seres orgânicos esperando (acelerando na verdade) a morte. Isso seria um grave defeito do roteiro se o filme não pedisse algo parecido. O Rei da Morte certamente não seria o que é se tivesse personagens "Tarantinescos", que dialogassem durante minutos e tivessem uma missão ou motivação mirabolante. O filme cria uma atmosfera incrível justamente pela sensação de abandono que sentimos durante a exibição.

Enfim, O Rei da Morte é um filme que causou muito impacto em mim quando o assisti pela primeira vez, e acho que todos que assistirem sentirão a mesma coisa.

Ps:. O suicídio de domingo é algo perigoso.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Saló ou os 120 Dias de Sodoma - Pier Paolo Pasolini




Pier Paolo Pasolini foi um cineasta controverso, principalmente por tocar na ferida de vários assuntos até hoje polêmicos, como homossexualidade, política e principalmente a religião. Sempre muito crítico e ácido, Pasolini nos deixou grandes clássicos do Cinema Europeu como Decameron Teorema. Seu último filme, Saló ou os 120 Dias de Sodoma - inspirado em algumas obras do Marquês de Sade - é o mais polêmico de sua filmografia, e é dele que vou falar hoje.

Saló, dividido em três atos (Círculo das Manias, Círculo da Merda e Círculo do Sangue), se passa na Itália fascista de 1944, e conta a história de dezoito adolescentes sequestrados por quatro representantes da alta sociedade italiana: o Duque (Paolo Bonacelli), o Bispo (Giorgio Cataldi), o Juiz (Umberto Quintavalle) e o Presidente (o excelente Aldo Valletti). Durante o sequestro, os jovens sofrem várias torturas físicas, sexuais e psicológicas, somente para o divertimento dos quatro sádicos. Para esconder toda essa armação da sociedade, os quatro contaram com o apoio do exército fascista e da Igreja Católica.

O principal destaque de Saló é a maneira com que o Roteirista e Diretor Pasolini conduz as barbaridades expostas na tela: é extremamente chocante, mas não tem nada "aos ventos". O filme está repleto de abusos sexuais, torturas físicas e até uma cena de coprofagia coletiva, onde os quatro sádicos obrigam os adolescentes a devorarem fezes humanas em um enorme banquete. Mesmo com todo esse conteúdo repulsivo, Saló não é um filme gratuito. Pasolini, homossexual e subversivo assumido, criticava a sociedade italiana em cada obra. Em Decameron é criticada a maneira que a população trata o sexo; em Teorema é criticada a hipocrisia da família de classe média; em O Evangelho Segundo São Mateus, a crítica não veio por meio do conteúdo, e sim a representação nada divina de Cristo. Já nesse Saló, Pasolini critica a mania tipicamente humana da dominação. A dominação, tanto política quanto social, já foi explorada em dezenas de filmes, porém nunca tão contundente (e explícitamente) quanto aqui. Porém, no meio a "nojentices" e críticas, o filme se perde um pouco na parte técnica.

A ausência de uma trilha sonora e de uma fotografia mais trabalhada foram decisões totalmente acertadas, propiciando ainda mais um clima tenso para o filme. Assim como o recente Amor de Michael Haneke, o silêncio que compõe o filme é torturante, apenas sendo quebrado com lamentos e gemidos ainda mais. Quem não é iniciado em filmes lentos e perturbadores não aguentará Saló.

Enfim, Saló ou os 120 Dias de Sodoma é um controverso filme, que por um seu conteúdo explícito não é considerado um clássico absoluto.