quarta-feira, 10 de abril de 2013

Saló ou os 120 Dias de Sodoma - Pier Paolo Pasolini




Pier Paolo Pasolini foi um cineasta controverso, principalmente por tocar na ferida de vários assuntos até hoje polêmicos, como homossexualidade, política e principalmente a religião. Sempre muito crítico e ácido, Pasolini nos deixou grandes clássicos do Cinema Europeu como Decameron Teorema. Seu último filme, Saló ou os 120 Dias de Sodoma - inspirado em algumas obras do Marquês de Sade - é o mais polêmico de sua filmografia, e é dele que vou falar hoje.

Saló, dividido em três atos (Círculo das Manias, Círculo da Merda e Círculo do Sangue), se passa na Itália fascista de 1944, e conta a história de dezoito adolescentes sequestrados por quatro representantes da alta sociedade italiana: o Duque (Paolo Bonacelli), o Bispo (Giorgio Cataldi), o Juiz (Umberto Quintavalle) e o Presidente (o excelente Aldo Valletti). Durante o sequestro, os jovens sofrem várias torturas físicas, sexuais e psicológicas, somente para o divertimento dos quatro sádicos. Para esconder toda essa armação da sociedade, os quatro contaram com o apoio do exército fascista e da Igreja Católica.

O principal destaque de Saló é a maneira com que o Roteirista e Diretor Pasolini conduz as barbaridades expostas na tela: é extremamente chocante, mas não tem nada "aos ventos". O filme está repleto de abusos sexuais, torturas físicas e até uma cena de coprofagia coletiva, onde os quatro sádicos obrigam os adolescentes a devorarem fezes humanas em um enorme banquete. Mesmo com todo esse conteúdo repulsivo, Saló não é um filme gratuito. Pasolini, homossexual e subversivo assumido, criticava a sociedade italiana em cada obra. Em Decameron é criticada a maneira que a população trata o sexo; em Teorema é criticada a hipocrisia da família de classe média; em O Evangelho Segundo São Mateus, a crítica não veio por meio do conteúdo, e sim a representação nada divina de Cristo. Já nesse Saló, Pasolini critica a mania tipicamente humana da dominação. A dominação, tanto política quanto social, já foi explorada em dezenas de filmes, porém nunca tão contundente (e explícitamente) quanto aqui. Porém, no meio a "nojentices" e críticas, o filme se perde um pouco na parte técnica.

A ausência de uma trilha sonora e de uma fotografia mais trabalhada foram decisões totalmente acertadas, propiciando ainda mais um clima tenso para o filme. Assim como o recente Amor de Michael Haneke, o silêncio que compõe o filme é torturante, apenas sendo quebrado com lamentos e gemidos ainda mais. Quem não é iniciado em filmes lentos e perturbadores não aguentará Saló.

Enfim, Saló ou os 120 Dias de Sodoma é um controverso filme, que por um seu conteúdo explícito não é considerado um clássico absoluto.

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